data-filename="retriever" style="width: 100%;">Assisti a um filme que o bruxo que colocava a capa da invisibilidade. Revi muitas vezes a cena em que ele andava pela aldeia vendo sem ser visto, sentindo sem ser sentido, ouvindo sem ser ouvido, e associei com a vida que temos, com ou sem pandemia, e percebi que todos usam uma capa destas.
Nossa capa da invisibilidade materializa o soneto Mal Secreto de Raimundo Correia, com a ideia de que nem tudo que punge e que devora o coração se estampa na máscara da face, mas reflete como as emoções são socialmente julgadas, e revelam a necessidade de aceitação que leva, por vezes, a ação dissimulada.
Na ocasião, pensei no Salmo 27 falando das adversidades e veredas da vida, do que se oculta no pavilhão do recôndito do seu tabernáculo, do clamor para não ser rejeitado, desamparado, abandonado, entregue ao inimigo ou a falso testemunho, mas rogando para ser guiado pela via animadora da bondade divina.
Ali, percebi que nossa capa da invisibilidade pode ser a da dor física ou emocional que por vezes pesa nos ombros; a da saudade ou da ilusão perdida transportada no coração que faz o espírito chorar; a da bagagem da consciência que devora o interior; a das obrigações profissionais, sociais ou familiares guardadas no recôndito inimigo como invisível chaga cancerosa; ou a do amor, da fé, da gratidão e da paz que nos torna venturosos.
De todas estas capas, meu mundo vivido tem me mostrado que a maioral é a da gratidão e da paz. Sim! Porque ela nos leva a agradecer a Deus por nos ter criado a sua imagem e semelhança, nos ter dado inteligência, vontade e livre arbítrio para que pudéssemos ter escolhido e construído nossa família, cuidado da saúde, cultivado nossa fé, feito as opções que fizemos sem deixar de valorizar a vida que levamos, podendo acordar diariamente rodeado de tanto a agradecer e pouco a reclamar.
Na verdade nossa capa de gratidão e paz concretiza o que acreditamos, sentimos, pensamos, e falamos, pois tudo aquilo que focamos é no que nossa vida poderá se tornar. Então, se não formos gratos pelo que temos, o que prova que seremos felizes com mais? O ato da gratidão escancara janelas e abre portas para as coisas lindas da vida, nos aconchega na tranquilidade, nos faz brilhar, ser feliz e forte, deixando a mente em paz com tudo à sua volta.
A gratidão mostra que o que temos é suficiente e transformador, capaz de transverter um simples lanche num banquete, a casa num lar, um estranho num amigo, além de ressignificar nosso passado, dar paz ao nosso presente e perspectiva ao nosso futuro.
Caro leitor! Que privilégio é estar vivo, respirar, pensar e aproveitar. Olhe a sua volta, aprecie o que tens. Daqui a um ano, nada será igual. Então, pelo que podes ser grato hoje?